Primeiro caso de gripe aviária em granja comercial no Brasil acende alerta e reações no mercado internacional

Publicado em 20.05.25

Resumo da matéria

  • Ministério da Agricultura confirmou o 1º caso de gripe aviária de alta patogenicidade em granja comercial no Brasil, em Montenegro (RS), no dia 15 de maio
  • A área em Montenegro-RS foi isolada, aves restantes eliminadas e está sendo conduzida uma investigação em um raio de 10km da identificação do foco, criando-se uma zona de contenção e de proteção da enfermidade e seguindo protocolos da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA)
  • A identificação causou a suspensão imediata das importações por parte da China, União Europeia e vários países
  • A suspensão depende de acordos, regras e restrições de cada mercado com o Brasil. Há protocolos de regionalização de embargos de gripe aviária em outros países
  • Com suspensão de mercados, mesmo que seja regionalizada, há possibilidade de desequilíbrio na oferta e demanda do produto, resultando em redução de preços em um primeiro momento
  • O risco de transmissão de gripe aviária para humanos é baixo, associado a pessoas que manipularam animais doentes. Os animais doentes são sacrificados para evitar que o vírus se espalhe para plantéis saudáveis. No caso de consumo da carne de frango ou ovos, não há risco de transmissão, com o preparo de maneira adequada

No  dia 15 de maio de 2025 o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) registrou a detecção do primeiro foco do vírus da influenza aviária (gripe aviária, H5N1) de alta patogenicidade (IAAP) em uma granja comercial no Brasil, em Montenegro – RS.

O país era um dos poucos no mundo que mantinha o status sanitário diferenciado de nunca ter registrado um caso de influenza aviária em uma produção comercial. No entanto, por tratar-se de um vírus de alta resistência, disseminado principalmente por aves silvestres migratórias, e que vinha se espalhando em por vários países da Ásia e das Américas – inclusive em países vizinhos ao Brasil desde 2022, como Argentina, Uruguai, Bolívia, Chile, Equador, Peru e Venezuela -, era considerada iminente a ocorrência de algum registro no Brasil, mesmo existindo um forte plano de vigilância sanitária constante, que busca a detecção precoce da doença com o monitoramento dos sítios de aves migratórias e a realização de coletas periódicas de materiais para identificação. Em 2023 chegaram a ser detectados casos em aves silvestres no país e medidas de contingência foram rapidamente adotadas, sem registro de impactos na produção comercial naquele momento.

Com esse caso confirmado, o MAPA decretou estado de emergência zoossanitária por 60 dias no município de Montenegro-RS, em um raio de dez quilômetros ao redor do local onde foi detectado o vírus – 17 mil aves da granja onde houve identificação foram mortas e abatidas. Está em ação um plano de monitoramento e vigilância sanitária no país para controle de possíveis novos casos e isolamento da região, criando uma zona de contenção e seguindo protocolos da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). Foram implantadas barreiras sanitárias e de desinfecção, além de ampla testagem na região e casos suspeitos.

Mesmo com as medidas adotadas, restrições já vêm sendo impostas à carne de frango brasileira. O Brasil atualmente o maior exportador de carne de frango do mundo, responsável por 36% de toda a carne de frango exportada globalmente (4,9 milhões de toneladas em 2024), chegando a 169 países. Importantes mercados como China, maior mercado destino das exportações (14% de toda a demanda de carne de frango brasileira), e União Europeia (10%) suspenderam por 60 dias as compras de carne de frango de todo o Brasil. Outros países restringiram apenas a carne de frango proveniente da região, como Japão (9%), Arábia Saudita (8%).

A reação dos países depende de acordos, regras e restrições cada mercado. Essas suspensões imediatas podem desbalancear de modo imediato o mercado de frango no país, provocando queda de preços com a tendência de uma superoferta. Importante destacar que o risco de transmissão de gripe aviária para humanos é baixo, associado a pessoas que manipularam animais doentes. As aves infectadas são sacrificadas para se evitar que o vírus se espalhe para plantéis saudáveis. No caso de consumo da carne de frango ou ovos, não há qualquer risco de transmissão com o preparo de maneira adequada. Além disso, as aves da granja onde houve registro da gripe aviária são imediatamente abatidas e não tem sua carne comercializada.

Apesar dos bloqueios, a situação pode ser brevemente administrada. Com o avanço da ocorrência da doença em várias regiões, hoje já há uma flexibilização com relação às regras em países, não existindo grandes mercados consumidores que só compram de país livres da doença – notadamente pela disseminação em importantes mercados produtores, como EUA e União Europeia. A própria China segue comprando carne de frango dos EUA, mesmo com a ocorrência de gripe aviária em granjas do país desde 2017. Apenas nos EUA, desde a detecção do vírus em aves comerciais, há pouco mais de três anos, mais de 168 milhões de aves foram abatidas ou mortas pela doença.

Importações de Carne de Frango da China por principais países-fornecedores, entre 2005 e 2024 (em milhares de toneladas e participação percentual do total importado)

Ao invés de banir por completo as importações de um país onde foi registrada uma ocorrência, os países tendem a vetar a compra somente das zonas infectadas. Quando ocorre um foco em aves comerciais, as aves acometidas e expostas à doença são sacrificadas e a área isolada, criando as zonas de contenção – como o Brasil vem tratando o caso, seguindo regras da OMSA. Desde que seja demonstrado que o Brasil tenha capacidade de e efetivamente conseguir isolar essa área e atender às premissas da OMSA, poderá ter mercados reabertos pelo conceito de zoneamento ou regionalização.

Caso não exista nenhum novo registro, seja em Montenegro-RS ou em outras regiões, em 28 dias após o primeiro registro e comprovadas a efetividade das ações de controle e contenção, o Brasil poderá declarar-se novamente como zona livre da doença e solicitar, via negociação, a reabertura dos mercados. Portanto, tudo dependerá das relações comerciais e negociações entre os parceiros e do nível de confiança que o país conseguirá passar ao importador em termos do controle sanitário exercido no Brasil, em seu território, nos próximos dias.

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