Populações afrodescendentes rurais enfrentam desigualdades profundas na América Latina e no Caribe
Um novo relatório elaborado pelo Centro Latino-Americano e Caribenho de Demografia (CELADE) – Divisão de População da CEPAL e pelo Escritório Regional da FAO para a América Latina e o Caribe lança luz sobre a realidade de milhões de afrodescendentes que vivem em áreas rurais da região. O estudo é um passo inicial para avançar na redução das desigualdades rurais e da pobreza, promovendo uma transformação rural inclusiva e o desenvolvimento de sistemas agroalimentares mais sustentáveis e equitativos.
A nova publicação reúne dados censitários e análises que revelam os principais desafios, características e potencialidades das populações afrodescendentes. Segundo as estimativas mais recentes, a América Latina e o Caribe abrigam hoje 153,3 milhões de afrodescendentes — o equivalente a 23,3% da população regional. Desse total, aproximadamente 26 milhões vivem em zonas rurais, o que representa 22,5% da população rural da região. No Brasil, esse índice chega a 65,9%.
No entanto, essa significativa presença não tem se traduzido em políticas eficazes que garantam seus direitos e promovam sua inclusão. Os dados mostram que os afrodescendentes são os que enfrentam as maiores barreiras no campo, com acesso limitado a serviços básicos, educação, moradia digna, posse da terra e participação política. A situação é ainda mais crítica para mulheres e jovens afrodescendentes, que se veem em contextos de vulnerabilidade múltipla.
Além da precariedade estrutural, a falta de dados desagregados em muitos países e a ausência de políticas públicas com enfoque étnico-racial e territorial dificultam a construção de soluções concretas. Estudo recente realizado em 16 países da região revela que, embora os afrodescendentes ocupem historicamente 205 milhões de hectares em territórios rurais e ancestrais, apenas 5% dessas terras têm reconhecimento legal de posse coletiva.
A invisibilidade dessas comunidades contrasta com sua contribuição essencial para a conservação da biodiversidade, mitigação da crise climática e produção de alimentos. Seus conhecimentos tradicionais e práticas agrícolas próprias sustentam modos de vida resilientes e sustentáveis, que dialogam com os princípios de soberania e segurança alimentar
Apesar de a maior parte dos afrodescendentes viver em áreas urbanas (83%), a presença afro nas zonas rurais é decisiva em vários países, especialmente em contextos como Colômbia, Guatemala, Haiti e Honduras, onde cerca de um terço da população afrodescendente é rural.
O relatório elaborado pela FAO e pela CEPAL visa contribuir com governos, organizações afrodescendentes e demais atores envolvidos, públicos e privados, para ampliar a visibilidade e garantir o exercício pleno dos direitos das populações afrodescendentes no meio rural. Mais do que um diagnóstico, o estudo é um chamado à ação conjunta, à justiça histórica e à construção de um futuro mais equitativo para todos.
Confira na íntegra (aqui).
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