Agricultura em harmonia: a construção de paisagens que protegem abelhas e alimentam o mundo

Publicado em 18.02.25

O manejo integrado de paisagens em sistemas agropecuários é uma abordagem abrangente que busca equilibrar a produção agrícola com a conservação ambiental por meio da gestão sustentável dos recursos naturais e das práticas agrícolas. Essa estratégia combina conhecimentos tradicionais e inovações tecnológicas para otimizar a eficiência produtiva e preservar o meio ambiente. Ao reconhecer a interdependência entre os diversos elementos da paisagem — como solo, água, vegetação e fauna —, o manejo integrado promove práticas sustentáveis que não apenas protegem e restauram os ecossistemas, mas também fortalecem a resiliência ecológica e garantem a produtividade a longo prazo.

Nas paisagens agrícolas, a proteção dos polinizadores, como abelhas e outros insetos, é essencial para a manutenção da biodiversidade e da segurança alimentar. Esses organismos desempenham um papel fundamental na polinização de milhares de espécies de plantas em todo o mundo. No entanto, a degradação dos ecossistemas agrícolas, frequentemente impulsionada por práticas intensivas, pode ameaçar sua sobrevivência, reduzindo a disponibilidade de recursos e comprometendo os serviços ecossistêmicos que garantem a renovação dos cultivos.

Os sistemas agrícolas de alta produtividade são essenciais para a manutenção da competividade do agronegócio brasileiro. Entretanto, é necessário adotar estratégias que minimizem possíveis impactos ambientais e promovam a conservação da biodiversidade, especialmente dos polinizadores, como as abelhas, que desempenham um papel crucial na produção agrícola.

A diversificação dentro dos sistemas agrícolas, como a rotação de culturas e a integração lavoura-pecuária pode ser uma estratégia eficiente para manter o equilíbrio ecológico sem comprometer a produtividade. O diálogo entre agricultores, pesquisadores e apicultores é essencial para desenvolver soluções que conciliem a produção agrícola com a preservação dos polinizadores, garantindo a sustentabilidade do setor no longo prazo.

Além dessa estratégia, a criação de corredores ecológicos, faixas de vegetação nativa e refúgios florísticos desempenha um papel fundamental na manutenção da biodiversidade e no fortalecimento dos serviços ecossistêmicos. Esses elementos promovem ambientes favoráveis para insetos benéficos, como polinizadores e predadores naturais de pragas, contribuindo para um sistema agrícola mais equilibrado, além disso, os corredores ecológicos permitem que polinizadores se desloquem livremente, aumentando a polinização em áreas de cultivo.

Plantar espécies floríferas entre as culturas ou nas bordas dos campos agrícolas é uma prática eficiente para atrair as abelhas e insetos benéficos predadores de insetos-pragas e ácaros. Espécies como girassol, lavanda, manjericão e leguminosas proporcionam alimento e abrigo para esses insetos. A manutenção de áreas de vegetação nativa contribui para a diversidade de habitats e a preservação de polinizadores silvestres.

A presença de polinizadores em paisagens agrícolas tem um impacto direto na produtividade das lavouras. Estima-se que cerca de 80% das plantas cultivadas dependam, em algum grau, da polinização realizada por insetos. Culturas como café, maçã, amêndoa e maracujá apresentam ganhos significativos de rendimento quando a polinização é eficiente. Dessa forma, investir na criação de ambientes propícios para abelhas e outros insetos polinizadores pode resultar em colheitas mais abundantes e de maior qualidade.

Nesse contexto, a legislação ambiental brasileira, que exige a manutenção de reservas legais e áreas de preservação permanente (APPs), pode desempenhar um papel fundamental na conservação desses polinizadores. Essas áreas, quando bem manejadas, podem servir como refúgio e fonte de alimento para insetos benéficos, contribuindo para o equilíbrio ecológico e reforçando os serviços ecossistêmicos essenciais para a agricultura. Assim, a preservação ambiental não apenas atende às exigências legais, mas também se torna uma estratégia para aumentar a produtividade e sustentabilidade das lavouras.

Além da diversificação dos sistemas produtivos e da criação de ambientes favoráveis para a biodiversidade, a conservação do solo e da água é outro aspecto fundamental do manejo integrado de paisagens. Técnicas como o plantio direto, a construção de terraços e a implementação de sistemas de irrigação eficientes desempenham um papel essencial na prevenção da erosão, na retenção de umidade e na manutenção da fertilidade do solo, garantindo a sustentabilidade da produção agrícola a longo prazo.

A restauração de áreas degradadas e a preservação de habitats naturais complementam essas estratégias, fortalecendo a resiliência dos ecossistemas. A recuperação de áreas desmatadas ou erodidas por meio do plantio de espécies nativas e da revegetação não apenas restaura a função ecológica dessas áreas, mas também melhora a qualidade do solo e contribui para a manutenção dos serviços ecossistêmicos essenciais para a produção agrícola sustentável.

A preservação da mata ciliar é essencial para proteger os cursos d’água contra erosão, assoreamento e contaminação, além de oferecer abrigo para diversas espécies de insetos, contribuindo para o equilíbrio ecológico.

A gestão eficiente dos recursos hídricos é particularmente importante em regiões propensas a secas ou com disponibilidade hídrica limitada. A captação e o armazenamento de água da chuva, juntamente com práticas de irrigação eficiente não apenas reduzem a dependência de fontes externas, mas também aumentam a capacidade de adaptação dos agroecossistemas diante de períodos de estiagem.

O uso de defensivos agrícolas requer manejo adequado para evitar impactos na população de polinizadores. Para mitigar possíveis efeitos, o manejo integrado de paisagens enfatiza a adoção de boas práticas, como o uso de bioinsumos e defensivos naturais, incluindo extratos vegetais e microrganismos benéficos, que protegem as plantas ao mesmo tempo em que preservam os polinizadores.

Além disso, a introdução de técnicas como o controle biológico de pragas é essencial para manter o equilíbrio ecológico nas lavouras. Por meio do incentivo à presença de predadores naturais, como joaninhas e crisopídeos, é possível reduzir a população de insetos nocivos sem recorrer a outros produtos prejudiciais. Esse controle natural se torna ainda mais eficaz em paisagens agrícolas diversificadas, onde os insetos-praga encontram maior dificuldade para se proliferar. Dessa forma, a combinação de práticas sustentáveis contribui para a redução da necessidade de defensivos químicos, promovendo um sistema agrícola mais equilibrado e produtivo.

O uso correto dos defensivos, conforme as recomendações de bula, minimiza o risco de exposição das abelhas, promovendo um equilíbrio entre a produção agrícola e a proteção dos polinizadores.

Outro ponto importante a ser considerado é a escolha de defensivos agrícolas seletivos, ou seja, aqueles que atuam especificamente sobre as pragas alvo sem causar grandes impactos aos inimigos naturais dessas pragas e aos polinizadores. Além de reduzir os impactos negativos sobre a fauna benéfica, a adoção de defensivos seletivos, quando aliada a boas práticas agrícolas, contribui para uma produção mais sustentável, diminuindo a necessidade de agroquímicos e promovendo um ambiente agrícola mais equilibrado e produtivo.

O envolvimento da comunidade e a integração de conhecimentos tradicionais são fundamentais para o sucesso do manejo integrado de paisagens. As práticas de manejo devem ser adaptadas às condições locais e envolver os agricultores, comunidades rurais e outras partes interessadas. A educação e a capacitação são essenciais para a adoção de práticas sustentáveis. Além disso, a colaboração entre cientistas, agricultores e formuladores de políticas pode facilitar a implementação de estratégias eficazes de manejo da paisagem e a construção de soluções mais eficazes. Assim, o manejo integrado de paisagens representa um caminho promissor para a agricultura sustentável e a conservação ambiental.

Opinião

Eventos

ver mais
06.05
ExpoMafe
13.05
Fenagra 2025
03.06
Agro Summit
24.06
Energy Summit 2025
11.08
Congresso Brasileiro do Agronegócio
22.10
Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio (CNMA)