Amazônia ganha centro para apoiar a recuperação de áreas desmatadas e degradadas

Publicado em 03.06.25

Resumo da matéria

  • Embrapa coordena centro inédito com foco na restauração ambiental da Amazônia Legal
  • Mais de cem cientistas de 33 instituições vão atuar em áreas degradadas com a população local
  • Com investimento de R$14 milhões, a iniciativa vai investigar soluções integrando ciência, cultura e saber tradicional
  • “Laboratórios vivos” vão promover trocas de experiências e conhecimentos em três territórios amazônicos
  • Iniciativa também vai reunir informações sobre as mudanças climáticas na região

A Amazônia Legal acaba de ganhar um centro inédito dedicado à recuperação de ecossistemas desmatados e degradados. Coordenado pela Embrapa, o Centro Avançado em Pesquisas Socioecológicas para a Recuperação Ambiental da Amazônia, batizado de Capoeira, reúne mais de 100 pesquisadores de 33 instituições do Brasil e do exterior, entre universidades, órgãos governamentais, ONGs, empresas privadas e coletivos locais. O projeto foi aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no âmbito do edital Centros Avançados em Áreas Estratégicas para o Desenvolvimento Sustentável da Região Amazônica, o Pró-Amazônia, e contará com investimento de R$ 14 milhões.

O Capoeira terá um hub na sede da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém (PA), e deve atuar de forma virtual integrando instituições, laboratórios e grupos de pesquisa em estudos socioeconômicos, ecológicos e bioculturais na região. “Atualmente, há grupos de pesquisa, redes colaborativas e comunidades locais empenhados na recuperação dos ecossistemas amazônicos. A proposta do Capoeira é ir além da produção de ciência de excelência, buscamos também articular e promover uma transformação positiva na região, substituindo a cultura da destruição pela da restauração”, pontua Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa e coordenadora do centro.

Desmatamento e degradação

O nome Capoeira é uma referência à vegetação que cresce em uma área que foi anteriormente desmatada, chamada de vegetação secundária. A Amazônia já perdeu 18% (846.000 km²), de acordo com o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). Essa área equivale a quase a totalidade do estado de Mato Grosso.

Além do desmatamento, a degradação também é uma ameaça às funções vitais da floresta e vetor das mudanças climáticas, de acordo com os cientistas do Centro. Uma área de pelo menos 370 mil km² da Floresta Amazônica (um pouco maior que a área total da Alemanha, por exemplo) já foi degradada por incêndios florestais, extração madeireira e fragmentação florestal (efeito de borda causado por atividades agropecuárias.

Esses distúrbios geram emissões massivas de gases de efeito estufa, perda de biodiversidade, alteração no regime de chuvas e aumento de doenças e conflitos socioambientais.

Os pesquisadores vão analisar dados de mais de 100 sítios de estudo em diferentes estados da Amazônia Legal. As áreas correspondem a iniciativas de restauração em locais com florestas secundárias, florestas primárias degradadas, áreas com Sistemas Agroflorestais e restauração de sistemas aquáticos.

Nesses locais, serão avaliados estoques ou incremento de carbono, recuperação da biodiversidade, resultantes do tipo de restauração aplicado. As iniciativas de restauração podem envolver regeneração natural da vegetação; regeneração natural assistida (quando se enriquece a área com plantios de espécies nativas e outras práticas de manejo); e regeneração por meio de plantio total ou semeadura direta, quando a cobertura do solo já é praticamente inexistente.

Outra estratégia são os Sistemas Agroflorestais (SAFs), que buscam o aumento de árvores nas paisagens, inclusive nas áreas agrícolas, e conciliam as necessidades ecológicas e as demandas econômicas dos agricultores familiares e povos da floresta. Os SAFs, segundo estudos pontuais do grupo da pesquisadora, são as estratégias de recuperação mais estudadas na região (37,88%), seguida pela regeneração natural (30,35%) e plantios florestais (19,55%).

“A maioria desses estudos são pontuais e existem lacunas de conhecimento sobre a restauração em importantes aspectos, como as questões socioeconômicas e culturais. O Centro surge, portanto, como uma iniciativa que visa desenvolver estudos mais integrativos, abordando diferentes aspectos da restauração, sejam eles ecológicos, sociais, culturais, econômicos e outros”, explica Ferreira

O Capoeira será também um polo de informações sobre cenários e riscos frente às mudanças climáticas, com a produção de mapas de ocorrência e recorrência de extremos de secas, temperaturas e mudanças climáticas, além de identificação de espécies de plantas e polinizadores mais resilientes.

Diferença entre restauração e recuperação

A restauração ecológica é o processo de apoiar a recuperação dos ecossistemas visando retornar ao seu estado original, incluindo as espécies nativas e as funções ecológicas, com o objetivo de resiliência de longo prazo.

A recuperação, por sua vez, visa retornar as funções e processos ecossistêmicos, mesmo que a composição de espécies e a estrutura sejam diferentes da original.

“Laboratórios vivos”

Uma das principais estratégias de atuação do Centro será a criação de “laboratórios vivos” (living labs), que serão espaços de trocas de experiências e conhecimentos baseados no conceito de inovação aberta, nos quais as comunidades locais e pesquisadores conhecem, avaliam e validam experiências de restauração de forma coletiva.

Os laboratórios estão localizados em três territórios amazônicos: 1. região de Santarém, no Oeste do Pará, com destaque para a Floresta Nacional (Flona) do Tapajós, a Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns e assentamentos rurais; 2. mosaico do Gurupi, região formada por Unidades de Conservação (UCs) e Terras Indígenas no Pará e Maranhão; e 3. Nordeste Paraense, abrangendo municípios como Bragança, Capitão Poço, Irituia, Paragominas e Tomé-Açu, região de colonização mais antiga do estado.

Esses territórios são considerados importantes espaços de pesquisa e ação devido às intensas transformações socioambientais que ocorreram em suas paisagens ao longo de diferentes períodos, de acordo com os pesquisadores do Centro. “Neles já existem parcerias de longa duração com as comunidades locais, e serão espaços de escuta e co-construção, com foco em ações de recuperação florestal com abordagem biocultural”, acrescenta a pesquisadora Ima Vieira, do Museu Paraense Emílio Goeldi e integrante do Capoeira.

Estratégia para mitigar as mudanças climáticas

A restauração dos ecossistemas amazônicos é considerada urgente, para os cientistas do Capoeira. Apesar dos esforços e compromissos assumidos pelo poder público local, nacional e internacional, iniciativa privada e cooperação da sociedade civil, a restauração dos ecossistemas precisa ganhar escala e integrar a diversidade de atores envolvidos no tema, afirma o grupo.

Para Danielle Celentano, do Instituto Socioambiental (ISA) e integrante do Centro, “a restauração de ecossistemas deve garantir diversidade e inclusão, integrando conhecimento tradicional, ciência e tecnologia — só assim construiremos soluções justas e duradouras”.

O Brasil assumiu o compromisso no Acordo de Paris de recuperar 12 milhões de hectares até 2030, dos quais cerca de 38% devem ocorrer na Amazônia. Essa meta está associada a compromissos internacionais que serão amplamente debatidos durante a Conferência das Nações Unidades sobre as Mudanças Climáticas 2025, que ocorrerá em novembro deste ano, em Belém, capital do Pará.

Os pesquisadores do Capoeira acreditam que a restauração florestal é uma estratégia fundamental para mitigar as mudanças climáticas e certamente será um tema de debate importante na COP 30 entre os países em desenvolvimento. “A maior parte das emissões brasileiras advém dos desmatamentos na Amazônia e mudanças de uso da terra, logo ações que revertam os efeitos dos desmatamentos são fundamentais”, afirma Joice Ferreira.

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